Regozijamo-nos quando recebemos notícias de avivamentos em várias partes do globo, e oramos para que estes se multipliquem muito mais. Porém, grandes quantidades de convertidos e de novas igrejas são apenas o princípio da expansão do Evangelho numa nação. Para que a fé se estabeleça, de fato, num lugar, é preciso que seja impulsionada não só por igrejas fundamentadas nas Escrituras, mas, também, por meio do ministério multigeracional da família cristã.
Quinhentos anos atrás, avivamentos profundos se alastravam por toda a Europa. Nações inteiras foram remodeladas por crentes apaixonados que haviam se voltado às verdades fundamentais de somente as Escrituras, somente a graça, somente a fé, somente Cristo e somente glória a Deus. Igrejas foram plantadas. Missionários foram enviados. O mundo nunca mais foi o mesmo.
Contudo, observe o estado espiritual da Europa hoje. De acordo com estimativas, apenas de um a dois por cento da população são nascidos de novo. Como um continente inteiro pôde passar de uma condição de vitalidade espiritual à de desolação espiritual? Embora vários fatores estejam envolvidos, a resposta final é simples. Os cristãos na Europa perderam o coração de seus filhos, geração após geração. Se não “discipularmos” nossos filhos e netos, o declínio espiritual será inevitável.
Evangelismo e discipulado estão numa crise séria, e é uma crise geracional. Estamos perdendo mais filhos nossos para o mundo do que estamos ganhando adultos do mundo para a fé em Cristo. Como resultado, o número de verdadeiros cristãos está caindo.
Como isso pode estar acontecendo? Estamos na era das megaigrejas, megaprogramações, megaorçamentos, megaconferências e megatreinamentos de líderes. Temos livros cristãos, DVDs e cursos planejados para cada faixa etária sobre todos os assuntos imagináveis. Temos incontáveis eventos de evangelização, de serviços comunitários, retiros e viagens missionárias de curta duração. Estamos realizando mais obras do que em qualquer outra época, mas será que estamos formando mais discípulos do que antes? Estou convicto de que a resposta é “não”.
Quando avaliamos o ministério para jovens e crianças, somos obrigados a reconhecer que a “nova experiência” está fracassando. A “nova experiência” é fazer evangelismo e discipulado de crianças por faixa etária, cada qual à parte, dentro de um prédio institucional. Os pais levam seus filhos e os largam lá. Colocamos cada um numa sala diferente, de acordo com a idade, e os “discipulamos”. Em termos de História da Igreja, esse método realmente é algo novo.
De forma lenta, porém decidida, estamos abandonando o modelo bíblico de discipulado na família e delegando o treinamento espiritual de nossos filhos aos “profissionais” na igreja. Eu dirigi o ministério de acordo com esse modelo numa igreja grande durante mais de uma década. Uma das consequências não planejadas desse modelo ministerial que separa sistematicamente os filhos dos pais foi que os pais ficaram livres para se tornarem espiritualmente passivos em casa. Afinal, já tinham garantido que o filho ou a filha estivesse engajado num maravilhoso “grupo de jovens”.
Esse novo modelo é um desvio dramático do modelo da igreja primitiva e daquele que era aplicado na Reforma. Era uma prática comum para os líderes eclesiásticos no século 17 visitar regularmente o lar de cada família na igreja para verificar se os pais estavam ou não discipulando seus filhos por meio da prática regular do culto doméstico. Em 1647, um grupo de cristãos na Escócia publicou um Manual para Culto Doméstico, em que escreveram:
“A assembleia requer que os ministros (pastores) façam uma pesquisa diligente para verificar se há no meio deles uma família ou mais de uma que estão negligenciando o dever do culto doméstico. Se acharem uma família nessa condição, o chefe da família será advertido em particular para que corrija sua falta; no caso de não a corrigir, ele será seriamente reprovado, com tristeza, pelo ministério; se, depois de tal repreensão, for constatado que ele ainda continua negligenciado o culto doméstico, que ele seja, por tal obstinação nessa ofensa, suspenso e barrado da participação na Ceia do Senhor, até que haja conserto e mudança na prática.”
O culto doméstico era uma questão importante na disciplina da igreja. Por que essas igrejas o levavam tão a sério? Por que investiram tanto tempo, indo de casa em casa para encorajar a prática e garantir que realmente fosse realizado? O culto doméstico era uma prioridade máxima porque eles tinham paixão pela Grande Comissão. Sabiam que Deus disse claramente nas Escrituras que os pais e os avós devem tomar a iniciativa no treinamento espiritual de seus filhos e netos. Para eles, uma igreja não pode levar a Grande Comissão a sério sem levar o culto doméstico a sério.
Charles Spurgeon estava profundamente preocupado com as mudanças que estavam ocorrendo na cultura cristã durante o final do século 19. No artigo O Tipo de Avivamento Que Precisamos, ele escreveu:
Desejamos profundamente um avivamento de devoção familiar. A família cristã era o baluarte da piedade nos dias dos puritanos, mas, nestes tempos perversos de hoje, centenas de famílias que se chamam cristãs não fazem mais culto doméstico, não colocam limites nos filhos, não lhes oferecem instrução saudável nem disciplina. Como podemos esperar algum avanço do Reino do nosso Senhor quando seus próprios discípulos deixam de ensinar o Evangelho aos filhos? Ó cristãos, homens e mulheres, sejam cuidadosos e completos em tudo o que fazem, conhecem e ensinam! Capacitem sua família no temor de Deus e sejam, vocês mesmos, “santos para o Senhor”. Assim serão firmes como rochas no meio das ondas de erro e impiedade que se levantam e se enfurecem ao nosso redor.
Precisamos desesperadamente dessa mensagem de Spurgeon hoje! Os homens e mulheres que são consagrados a Deus são cada vez mais requisitados pelas igrejas em crescimento, para se envolverem mais “no ministério”. Geralmente, envolver-se no “ministério” significa ser voluntário num programa da igreja. Spurgeon entendia que, para ver “algum avanço do Reino do nosso Senhor”, o ministério precisa começar em casa.
Texto de Rob Rienow
Publicado originalmente em https://revistaimpacto.com.br/o-papel-essencial-da-familia-na-evangelizacao-mundial/