Um Natal renovador

green pine tree with fireflies

Como Karis amava o Natal! Quando penso nisso, fico imensamente grata pelas vinte e oito vezes que pudemos celebrar o Natal com ela. Dos seus 30 anos, não estou contando dois natais dela: um ela passou Istambul e outro em coma. Às vezes, comemoramos em um hospital, levando decorações, presentes e comidas especiais para lá. No Natal de 2004, que ela passou na UTI, em coma e ficou tão decepcionada quando acordou o dia 17 de janeiro para descobrir que havia perdido o Dia de Ação de Graças norte americano, o Natal e o ano novo.

Nosso Natal “normal” em São Paulo incluía uma festa com nossos vizinhos. Tínhamos em casa aos sábados um clube bíblico para as crianças de nossa rua. Para o Natal sempre fizemos à tarde um teatro com fantasias, convidando os pais para apreciar os talentos performáticos de seus filhos. À noite tivemos a festa com jogos e comidas trazidas por todos. Que saudades destes tempos festivos com nossos vizinhos queridos!

Mas o que quero descrever para vocês é o último natal que Karis passou conosco, no ano 2013. Ela estava em última fase de falência renal, portanto teve pouca energia. De sua posição deitada no sofá, ela me indicou exatamente onde colocar cada enfeite na árvore de Natal. Me deu dicas quanto às guloseimas natalinas que eu devia confeccionar e presentes que seus irmãos apreciariam.

Apesar dessa tentativa de cooperar com o espírito natalino, porém, Karis estava deprimida. Meses antes, o nefrologista havia falado que ela teria seis meses para viver. Ela calculou que iria para Deus então na época da festa de Ação de Graças em novembro. Thanksgiving ou Ação de Graças significa agradecimento. Ela havia imaginado toda uma cena de agradecimento à família por amar e cuidar dela e então dizer tchau e entrar na gloria do céu, junto com o Pai, livre de dores e angústias.

O Thanksgiving passou e ela ficou. No seu diário ela escreveu para Deus, “Papai, não aguento mais! Por favor—estou te implorando—leva-me para Casa, junto a ti. Estás me ouvindo? Estou gritando, silenciosamente, para não perturbar minha mãe.” Cada dia que passou, ela ficou mais desanimada. Sentiu que aquele médico havia a enganado.

Porém, Deus tinha algo muito especial preparado para ela. Na semana após o Natal, chegaram de visita o pastor de nossa igreja em São Paulo, Vandeir e sua esposa Hildete. Karis presenteou a Vandeir uma pequena ovelha de pelúcia, dizendo-lhe que ainda era ovelha dele.

Na segunda dia de visita, Hildete passou a noite com Karis, conversando e orando sobre mil e um tópicos que Karis não sentiu liberdade para discutir comigo, temendo que eu ficaria triste. Por não fazer parte desse convívio precioso, não conheço os detalhes. Mas Hildete me contou depois que falaram sobre como preparar-se para morrer e como viver enquanto continuasse com vida. Karis estava triste pensando em tudo que queria fazer e conquistar que não seria mais possível.
Sei que aquela conversa transformou o desanimo da Karis em gratidão. A tristeza virou paz. As últimas semanas de vida da Karis foram alegres e festivas.

Na véspera do Ano Novo, nossa família tinha o hábito de falar juntos sobre os versículos que cada um escolheu como lema para o ano. Karis escolheu Marcos 5.41, da história de Jesus trazendo de volta da morte a filha de Jairo. “Jesus tomou-a pela mão e lhe disse, “Talita cumi!”, que significa “menina, eu lhe ordeno, levante-se!”.

Karis nos explicou que o espírito dela já estava morto, mas através do tempo com Hildete, ela entendeu que Jesus estava chamando-a a levantar-se e VIVER enquanto Deus não a levasse para o céu. Ela escutou e obedeceu, inclusive planejando uma festa alegre de aniversário para sua irmã Valéria que muito a abençoou. Valéria inclusive deu o nome Talita para sua filha.

No dia 5 de fevereiro Deus respondeu ao desejo de seu coração e levou Karis para o céu. A última imagem de si que ela nos deixou foi um sorriso radiante enquanto estavam induzindo a sua última coma para colocá-la no respirador. Minutos antes, ela havia escrito para nós, “Eu te amo, mamãe. Eu te amo, Valéria. Amo papai, amo Daniel, amo Raquel. Agora chame o médico pois NÃO CONSIGO RESPIRAR.”

Eu creio que ela sabia que estava se despedindo de nós. Mas não estava triste, não. Estava vibrando de alegria. Creio que ela podia dizer junto com Paulo, “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”. (2 Timóteo 4:7).

Tudo isso agora faz parte de minha alma quando celebro o Natal. Deus me enche de gratidão pela visita de Vandeir e Hildete, mensageiros de graça e de coragem para minha filha amada Karis.

Débora Kornfield

Leia o livro “Karis, eu vejo a graça”, da Editora Betânia, e conheça mais sobre os milagres de Deus na vida desta família.

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