Milagres na vida da Karis (Parte 2)

person in blue gloves and blue denim jeans

por Débora Kornfield

Rejeição e pneumonia após o primeiro transplante (novembro de 2004)

Eu casualmente acenei para Karis e essa pode ser minha última comunicação com ela.

Você já viveu algo assim? Para nós, a família da Karis, foi traumático cada vez que os médicos nos diziam, “Preparem-se, pois, esta vez ela não tem volta; vai morrer”.

Nosso pastor chegou em seguida. O Dr. M permitiu que tivéssemos alguns momentos preciosos com Karis, para ungi-la com óleo e orar por sua cura. Então, começamos a fazer planos para o culto funeral. Eu estava funcionando no piloto automático, sem ideia de como reagiria se ou quando Karis desse uma guinada para pior.

Nosso filho Daniel chegou primeiro, vindo de Nova York na noite de quinta-feira. As notícias da UTI iam de mal a pior. Os antibióticos não surtiam efeito algum. A pneumonia passou dos primeiros sintomas para nível crítico em 36 horas. Agora havia apenas uma pequena área no topo de cada pulmão que não foi consumida pela infecção.

Sexta-feira de manhã, o Dr. M explicou a Daniel e a mim que eles haviam transferido Karis de um ventilador normal para um oscilador. O oscilador sacudia o corpo de Karis para forçar o oxigênio a entrar em seus pulmões, mas só funcionava se ela estivesse em uma posição de costas. Se eles mudassem ou virassem seu corpo, seu nível de oxigênio caía. A agitação constante de seu corpo tornava cada parte de seu cuidado mais difícil.

Daniel partiu para o aeroporto para pegar nossa filha Raquel, vinda de Chicago. Liguei para David no Brasil com uma atualização. Não havia espaço num voo para os Estados Unidos por mais dois dias. Mas, um executivo da companhia aérea conhecido por Pastor Ary Velloso da nossa missão Sepal havia conseguido espaço num voo daquela noite, para chegar a Newark no início do sábado e a Pittsburgh no final da manhã. Nunca soubemos como ele conseguiu isso.

Sexta-feira à tarde, o Dr. M nos deu uma centelha de esperança! Ele nos explicou o seguinte, que até então não sabíamos:

Revendo na manhã de quinta-feira o exame realizado na noite anterior do intestino transplantado de Karis, a equipe de transplante notou que a tomografia também havia captado a parte inferior de seus pulmões, mostrando nódulos que pareciam pneumonia fúngica. Sabendo que Karis estava naquele momento fazendo endoscopia, eles imediatamente solicitaram também a broncoscopia. O timing foi um milagre: dentro de uma hora, Karis estava doente demais para tolerar aquele procedimento.

Mas, em vez de cultivar fungos, como esperado, a cultura de seus pulmões estava desenvolvendo bactérias. Eles estavam dando a Karis os antibióticos errados.

Um segundo milagre foi este: um médico que fazia rodízio entre laboratórios em vários hospitais estava de plantão em nosso hospital naquela manhã de sexta-feira. Este médico, que havia feito sua pesquisa de doutorado sobre a Legionella, era provavelmente a única pessoa em Pittsburgh capaz de reconhecer tão cedo que a Legionella era a bactéria que crescia nas culturas de Karis. Não havia um caso de doença do legionário (pneumonia causada pela bactéria Legionella) neste hospital há doze anos. O chefe de doenças infecciosas tinha visto apenas um caso em toda a sua vida.

“O que isso significa”, disse o Dr. M, “é que cada hora que Karis permanece viva fortalece um pouquinho nossa pequena centelha de esperança – nossa pequena esperança de que haverá tempo para os antibióticos corretos ganharem a batalha contra a Legionella.”

Por que ele tinha que continuar enfatizando a palavra “pequena”?! Esperança era esperança, e meu coração se agarrou nela e segurou firme!!

Enquanto absorvíamos essas informações sobre os pulmões de Karis, o Dr. M explicou o outro grande desafio. O intestino transplantado de Karis estava se desintegrando, porque eles haviam interrompido todos os medicamentos imunossupressores para tratar a pneumonia. Era essencial retirar o enxerto antes que Karis entrasse em choque séptico. Mas, Karis ainda dependia do oscilador para respirar e fazer cirurgia delicada em um corpo chacoalhando era simplesmente impossível.

Precisávamos de uma janela mágica nos próximos dois ou três dias, quando os pulmões de Karis estivessem bem o suficiente para transferir para um ventilador normal, mas antes que ela morresse de sepse. Isto é, se ela permanecesse viva o tempo suficiente para que os antibióticos funcionassem contra a Legionella.

Valéria, nossa filha, que estava em São Paulo, descreve assim o que estava acontecendo:

“Eu estava na aula de educação física na escola quando vi meu pai entrar no campo. Corri para saber por que ele estava lá e ele agarrou meu braço e me disse que estava me levando para casa. Ele estava agindo muito estranho, mas não explicou nada. Ele estava completamente quieto durante todo o caminho para casa. Então ele me disse para fazer uma mala para mim e outra para ele; ele estava muito desconcertado para fazer a dele. Só a caminho do aeroporto ele conseguiu me falar o que estava acontecendo. Quando embarcamos no avião, não sabíamos se Karis ainda estaria viva dez horas depois quando aterrissamos em Newark. Essa foi a pior viagem de minha vida.”

Continua.


Débora Kornfield nasceu e foi criada na Guatemala, filha de missionários. Formou-se na Universidade de Wheaton (Chicago, EUA) e fez enfermagem na Universidade de Rush (Chicago). Com o marido David e seus quatro filhos, mudou-se para São Paulo em 1990 para trabalhar com a equipe SEPAL. Hoje mora em Pittsburgh-Pensilvânia-EUA e é autora do livro Karis eu Vejo a Graça, da Editora Betânia.

Adquira o livro “Karis, só vejo a graça” de Débora Kornfield, publicado pela Editora Betânia.

Deixar um comentário

Inscreva-se na nossa Newsletter

Últimas novidades em conteúdo para Igrejas Discipuladoras.
Fechar
Inscreva-se na nossa Newsletter
pt_BRPortuguês do Brasil