Conversas com o Pai

woman praying

Karis  se deleitava no dom espiritual que Deus lhe deu, o dom da intercessão. Ela achava o máximo o fato que pôde exercer o seu dom mesmo quando o corpo dela “não servia para mais nada.” Num leito de UTI, numa sala de espera para consultar um médico, junto com os amigos numa vigília ou sozinha e sem conseguir dormir na alta madrugada—em qualquer tempo ou lugar, ela pôde interceder pelos que ela amava. Quem sabe se até em coma ela exercia esse dom, pois a mente dela estava muito ativa mesmo quando a nós parecia que ela estava inconsciente.

Mas, na outra metade de seus escritos, Karis escrevia as conversas com o Pai a favor dela mesma. Para mim foi uma experiência inédita poder participar dessas conversas através dos diários que ela deixou. Lendo-os aprendi tanto a respeito de minha filha e a respeito de Deus! Aí nesses cadernos maltrapilhos encontrei tudo: adoração e gratidão, sim, mas também expressão de todas as emoções, abertamente reveladas a seu Aba Papai. Descobri que ela passava noites inteiras conversando com Ele numa profundeza e intimidade a tirar o fôlego. Porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho aos seus corações, o qual clama: “Aba, Pai.” Gálatas 4.6.

Afinal conclui que essas conversas com o seu Papai explicavam o famoso sorriso dela. Pois, ela colocava tudo diante do Trono: angústia e desespero, as dores físicas que não estava aguentando, sua raiva a respeito de uma decepção ou luta com uma tentação. E então esperava na santa Presença até conseguir trocar o que a perturbava pela paz maior que qualquer circunstância, como nos fala Filipenses 4.6-7.

Karis começou a escrever diários com nove anos. Temos uma coleção completa dos diários dela até a semana antes de seu último coma com trinta anos. Descobrimos esses cadernos espalhados entre os seus pertences após a morte dela.

Os diários dela, milhares de páginas escritas através dos anos, são conversas íntimas com o seu Pai celestial. A metade do que escreveu eram intercessões a favor de outras pessoas. Se ela lhe conhecia, pode ter certeza de que orava por você. 

Foi pelos diários da Karis que fiquei sabendo dessas noites dela passadas na Presença do Pai em vez de dormindo. Eu só vi uma menina sorridente descendo a escada de manhã pronta para ir à escola. Ou então uma menina obviamente doente demais para sair de casa a não ser para o hospital, na travessia da cidade dizendo, “Quem será que Deus tem para mim no hospital hoje? Deus sempre tem um plano—não é por acaso que estou passando mal agora.”

O que eu aprendi, e continuo aprendendo com Karis, é a confiança absoluta que ela nutria do profundo amor de Deus para ela e para todos. A ponto de não ter vergonha de conversar sobre qualquer coisa com Ele. Ou então, quando sentia vergonha, admitir até isso.

Quantas vezes eu tenho pensado, quando estou sofrendo uma ou outra coisa, “Será que Deus não me vê? Será que ele não se importa comigo? Por que tenho que passar por isso?” 

Ao contrário Karis, que sofreu fisicamente e  teve mais decepções que qualquer outra pessoa que eu conheço, tomou como base o inabalável amor de Deus por ela. Assim, quando aconteceram coisas aparentemente terríveis, ela respondia perguntando não por que, mas para que. E sempre havia naquele hospital uma pessoa, ou mais que uma, precisando de um ombro amigo, um olhar atento, um ouvido compassivo, um raio de luz na escuridão que estava percorrendo. Foi uma parceria com Deus para transmitir-lhes o amor Dele, tecida dia após dia na intimidade dela com o seu Papai, a sua fonte de paz, alegria, e vida.

Débora Kornfield

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