Estamos em um combate mortal. Combate até a morte.
É difícil para a maioria de nós que nunca serviu no exército, que nunca passou por uma guerra mundial ou mesmo que nunca esteve em uma zona de guerra, entender o significado de combate. É difícil acreditar que estamos vivendo um tempo de vida ou morte. A COVID-19 nos aproxima dessa situação. Todos os países vivem um clima de guerra. Essa pandemia tem levantado questões de vida e morte. Muitas pessoas morreram e em determinados países, muitos pastores*.
Satanás veio com um objetivo triplo: roubar, matar e destruir. Não podemos saber se ele estava por trás da criação da COVID-19; apesar que essa é uma possiblidade. Se ele não a criou, certamente tirou proveito disso. Sua impressão digital de confusão, medo, raiva e culpa estão em todo lugar como também sua impressão digital de roubo, assassinato e destruição.
Não é novidade que Satanás está em combate mortal contra nós. Se não fosse Jesus, isso seria uma ameaça avassaladora. O que pode ser novidade para muitos é que também somos uma ameaça avassaladora para ele, particularmente se formos fazedores de discípulos.
Satanás foi desafiado e ficou preocupado quando Jesus invadiu o silencioso planeta. Ele ficou ainda mais preocupado quando Jesus se multiplicou em doze apóstolos. Quando Jesus enviou os setenta, ele percebeu que seus problemas eram bem maiores do que ele podia pensar. Ele entendeu que a estratégia de Jesus era a de multiplicar mensageiros apostólicos. Se era ruim doze, setenta era muito pior. E o que ele fez em seguida? Satanás foi para o ataque e reuniu todas as forças disponíveis em um único objetivo – matar Jesus. Ele mataria o pastor e as ovelhas se espalhariam.
As coisas apenas ficaram piores para Satanás. Jesus ressuscitou de entre os mortos, agora imortal.
O plano “A” de Satanás não funcionou. Pior ainda para Satanás, Jesus comissionou os doze para serem fazedores de discípulos se tornando multiplicadores. Ele prometeu estar com cada um deles à medida que faziam isso. E então ele cumpriu sua promessa ao enviar o Espírito Santo para ungir e encher a cada um de seus discípulos e fazedores de discípulos.
Satanás tomou medidas drásticas. Ele trouxe todo o peso do estabelecimento religioso contra essas pessoas perigosas. O peso moral não foi suficiente. Eles continuaram testemunhando e fazendo discípulos. A perseguição e as prisões aumentaram. Não foi suficiente. A morte aumentou. Satanás descobriu que o martírio era a semente da igreja. Quando uma semente morre, muitas outras nascem. Aumentou tanto que todo o peso do Império Romano veio contra o povo de Deus, destruindo Jerusalém e a nação de Israel que deu origem ao Cristianismo. Havia perseguição e matança de cristãos em todo lugar. Mas o martírio continuava sendo a semente da igreja.
Uma nova estratégia. Fazer o cristianismo a religião oficial do Império Romano. A religião oficial rapidamente tornou-se nominal e hipócrita; cada coisa horrível foi feito em nome do cristianismo. A igreja tornou-se sinônimo do Estado. O Santo Império Romano se casou com a Santa Igreja Católica. Nas Cruzadas, matavam em nome de Jesus. Da mesma forma, a Inquisição. Mais assassinatos em nome de Jesus.
Mas o declínio da Santa Igreja Católica Romana originou novas Ordens de genuínos discípulos e finalmente veio a Reforma.
Avancemos o filme para os dias de hoje. Como Satanás pode parar a igreja? A palavra “igreja” vem da palavra grega “ecclesia”, assembleia. Que tal parar a igreja de se congregar ou de se reunir? E para garantir, detenha todos os pastores de se reunir com suas igrejas. Esvazie os prédios, deixando-os vazios como memorais de uma igreja que um dia era. Isole os pastores. Em muitos países, destrua a base financeira desses pastores.
O contra-ataque de Deus: um movimento mundial promovido pela Aliança Evangélica Mundial (WEA em inglês) chamado a Década de Fazer Discípulo: 2020-2030. É uma coincidência que a COVID-19 e este movimento nasceram com uma diferença de menos de dois meses? De modo algum! Ambos nasceram na Ásia: China e Indonésia respectivamente.
A COVID-19 se espalhou mais rápido e com mais efeitos mortais do que qualquer pessoa pudesse ter imaginado. Nenhum país está imune. O número de vítimas foi enorme mundialmente e em muitos países o relatório desse número foi subnotificado. Na última contagem passamos de 43 milhões de casos confirmados e já passamos um milhão de mortes no mundo todo. Os efeitos econômicos são enormes. E ainda não sabemos se a COVID-19 já atingiu o seu pico.
Deus está agindo em tudo, inclusive na COVID-19. Uma das coisas que ele tem feito é podar radicalmente cada pastor e líder, cortando a maioria do que costumavam fazer antes da COVID. O objetivo de Deus em podar é para que sejamos mais frutíferos. E o que poderia ser mais frutífero do que mudar nossas prioridades e focar na multiplicação de discípulos autênticos e fazedores de discípulos? [1]
Para continuar ganhando impulso para a Década de Fazer Discípulos qualquer país precisa de três coisas chaves [2]:
- Uma plataforma nacional que geralmente é através da Aliança Evangélica Nacional
- Uma significante e colaborativa equipe liderada por um líder ungido e comprometido em motivar, equipar e mobilizar toda a igreja a discipular toda a nação.
- Uma crescente e dedicada rede de dois tipos de líderes estratégicos: líderes de redes de igreja (denominações e associações [3]) e líderes de ministérios de fazer discípulos.
As Américas foram especialmente atingidas pela COVID-19. Oito dos quinze piores países em termos de mortes per capita estão na América Latina. Na ordem de classificação estão Peru, Chile, Bolívia, Equador, Brasil, México, Panamá e Colômbia. Surpreendentemente, os dois países que deram origem aos movimentos nacionais de fazedores de discípulos sob o guarda-chuva da Aliança Evangélica Nacional estão também na América Latina: Brasil e Venezuela. Embora esses dois movimentos sejam embrionários, eles nos dão algumas lições chaves de como tais movimentos poderiam acontecer em outros países.
O que poderia catalisar um movimento de fazer discípulo em seu país, denominação ou cidade? Além das chaves ou componentes listados acima, dois eventos podem ser críticos. O primeiro seria uma grande reunião ou retiro que reúna líderes estratégicos que possam dar origem a uma equipe de fazedores de discípulos, rede e movimento. Esse momento é visionário e planta a semente. Poderia ser comparado a fazer uma declaração de guerra.
O segundo seriam líderes estratégicos se reunindo com suas equipes para passar da inspiração para a ação, identificando como desenvolver as chaves para o movimento de fazer discípulo em seu contexto. Isso poderia ser comparado ao dia D na Segunda Guerra Mundial. Isso pode acontecer quando todos os atores principais e muitos dos secundários se tornam aliados, sentando-se à mesa para uma única razão: traçar projetos e os passos concretos para que cada um deles siga em frente na tarefa de fazer discípulo em sua esfera.
Na Jakarta, Indonésia em novembro de 2019, a WEA formalmente lançou a Década de Fazer Discípulo: 2020-2030. Eles declararam seu compromisso a um movimento de uma década [4]. Como na Segunda Guerra Mundial, se os aliados não unem forças, sozinhos não prevalecerão. Eles precisam de uma liderança clara, um trabalho em equipe forte e uma rede focada. Não muito diferente do Dia D, eles precisam de fazedores de discípulos generais, coronéis, majores e abaixo até os sargentos e soldados. Especialistas em fazer discípulos precisam ser mobilizados em equipar todo o corpo de Cristo para discipular toda a nação.
A Igreja evangélica em muitos países cresceu consideravelmente. Ao mesmo tempo em muitos países, senão em todos, a igreja tem se tornando cada vez mais nominal e menos comprometida. É mais difícil distinguir um cristão de um não cristão, principalmente se o não cristão for um humanista comprometido. O relativismo, o individualismo, o hedonismo e o materialismo invadiram a igreja. Nos Estados Unidos e na maior parte da Europa, a maioria das principais denominações estão perdendo seus membros. Sem entrar em detalhes dos pesquisadores como Barna ou Pew, parece claro que o cristianismo está em crise e isso inclui os evangélicos. Mesmo naqueles países que têm uma igreja evangélica em crescimento, precisamos prestar atenção às palavras de A. W. Tozer quando ele disse, “Nossos supostos ganhos são apenas perdas espalhadas em um território mais amplo.” Onde a igreja está crescendo, precisamos nos perguntar que tipo de igreja está crescendo. É uma igreja de discípulos de Jesus e de fazedores de discípulos ou uma igreja que não sabe o que significa ser um discípulo ou um fazedor de discípulo?
Devemos mudar duas coisas se queremos reverter isso. Devemos adotar a estratégia de Jesus para alcançar as nações – fazer discípulos [5]. E devemos criar alianças com líderes estratégicos. Nenhuma denominação e nenhum ministério poderão mobilizar toda a igreja para discipular toda a nação. Nem duas, três, seis ou dez organizações conseguirão fazer isso. Todos devemos nos unir com uma visão e valores compartilhados oferecendo modelos saudáveis de fazer discípulos de forma ampla e diversa. Nosso reto é não apenas alcançar nossa nação como também as demais.
Leitor, você tem um papel crucial nisso. Se você é um General (um estrategista, liderando grandes forças), um especialista de elite (líder de um ministério de discipulado), um tenente (pastor), um sargento liderando um pelotão (líder de pequeno grupo ou célula) ou um “soldado comum”, você precisa ser um discípulo (ser discipulado ou mentoreado [6]) e um fazedor de discípulos (discipulando outras pessoas). Cada um de nós, fazendo nossa parte, irá contribuir para realizar os objetivos de Deus aqui na terra. Se cada um de nós não fizer a sua parte, vai atrapalhar que esses objetivos se concretizem. Cada um de nós deve fazer a pergunta que Mordecai (discipulador) fez a Ester, sua discípula:
“Quem sabe se não foi para um conjuntura como esta que você foi elevada à condição de rainha” (Et 4.14).
David Kornfield
*Especialmente na Bolívia e no Peru e provavelmente em outros países da América Latina.
[1] Veja o artigo de David Kornfield, “A COVID-19 -Oportunidade inédita de fazer discípulos”. https://www.igrejasdiscipuladoras.com.br/blog/2020/04/13/covid-19-oportunidade-inedita-para-fazer-discipulos
[2] Com algumas adaptações esses mesmos três critérios podem ser adaptados para as denominações ou até mesmo para a uma igreja local. Essas três chaves iniciais podem ser expandidas com outras cinco: 1) um grupo principal que seja o motor de arranque (posterior transição para uma equipe) 2) uma consulta ou retiro para dar origem à visão e ao grupo.3) semeando a visão e os valores 4) treinamento para discípulos, fazedores de discípulos e líderes de movimentos de fazer discípulos; e 5) igrejas modelos de fazer discípulos.
[3] As pesquisas indicam que cerca de 70% das igrejas são independentes e esse número continua a crescer. Uma estratégia nacional de fazer discípulos precisa incluir trabalhar com as associações pastorais em toda a cidade, se maioria das igrejas forem incluídas no esforço para fazer discípulos.
[4] Embora nós, indiscutivelmente, não completaremos a tarefa em dez anos, podemos estabelecer uma base e um movimento de fazer discípulos que poderiam ser imbatíveis, especialmente se pudermos motivar, equipar e mobilizar a nova geração.
[5] A palavra “Igreja” aparece apenas em dois versos nos Evangelhos (Mt. 16:18; Mt. 18:17). A palavra “discípulo” ou “discípulos” aparece 240 vezes. A estratégia de Jesus para vencer o combate mortal contra Satanás foi e continua sendo ser discípulos e ser fazedores de discípulos. Apenas discípulos podem fazer discípulos. Todos os discípulos genuínos normalmente tornam-se fazedores de discípulos. Todos os fazedores de discípulos são discípulos genuínos. O ser precede o fazer, mas os dois estão inextricavelmente entrelaçados.
[6] O Grande Mandamento deixa claro que o amor horizontal e o vertical são inseparáveis. Nenhum é genuíno sem o outro. De forma semelhante, na Grande Comissão é preciso ser discípulo de Jesus (vertical) e um discípulo ou um mentoreado de uma pessoa parecida com Cristo (horizontal; 1Co 11:1). Um discípulo genuíno é comprometido com os dois. Ele ou ela também está comprometido em estender ambos aos outros no ato de fazer discípulos (1Co 15:10; Cl. 1:27-29.