Romper com o ativismo e dedicar-se a momentos de quietude e reflexão podem ser os diferenciais para um ministério mais frutífero, significativo e feliz.
A lida ministerial precisa encontrar seu lugar de sossego. Um tempo para renovar o físico e o emocional, deixar a função de cuidar, para cuidar-se. Foi esse convite que Jesus fez aos discípulos em meio a dias de muito trabalho: “Vinde à parte, a um lugar deserto e repousai um pouco”.
Não raro Deus convida seus parceiros na terra a sair do foco das necessidades e dos afazeres, para renovar a percepção acerca da forma como ele trabalha. O Senhor fez isso com Abrão, quando este experimentava um momento de ansiedade, porque as coisas não aconteciam e o tempo conspirava contra ele. A promessa de ser pai de uma grande nação virou motivo de frustração. Sara continuava estéril, a velhice batia à porta e um plano alternativo já estava em andamento: fazer do servo Eliézer o herdeiro das promessas. A jornada de fé que se iniciou em Ur tornou-se uma crise no vale de Hebrom.
É lindo ver Deus convidando Abrão a sair da tenda, lugar das queixas, reclamações e perguntas, para vir com ele, dar um passeio noturno e contemplar o céu. Enquanto Abrão se queixava sob a tenda, Deus preparava uma noite especial de céu enfeitado com estrelas cintilantes, para que seu amigo contasse o número delas. Então, olhando cada constelação, tamanhos e brilhos variados, e com o dedo apontado para o firmamento, dizia a Sara como ele não tinha percebido que tanta beleza sempre estivera sobre sua cabeça. Perdeu-se na contagem e ficou a contemplar.
A voz divina lhe diz: “Assim será o número de seus descendentes”. A Bíblia afirma: “Isso gerou fé em Abrão”. Não foi algo novo que aconteceu: cada estrela esteve no firmamento desde a criação. Abrão é que não havia parado para ver a pessoa de Deus se manifestando por meio das coisas criadas.
A Bíblia está repleta desses convites de Deus. Eles estão registrados para que seus filhos saiam da tenda que define as impossibilidades, vejam o céu aberto e desfrutem as possibilidades ele está preparando. Isso se dá por meio das janelas da alma, os nossos sentidos naturais: visão, audição, olfato, tato e paladar. O sobrenatural, muitas vezes, se manifesta por meio do natural.
“O sobrenatural, muitas vezes, se manifesta por meio do natural.”
Pode ser que a resposta aos gritos da alma esteja em:
Levantar de madrugada, ainda escuro, buscar um lugar longe das luzes da cidade e, com os olhos em direção ao nascente, observar como as trevas dão lugar à luz, presenteando-nos com um colorido inédito todos os dias. Como não perceber a fidelidade de Deus que nunca deixou falhar um dia sequer! Uma das mais belas figuras do caminhar com Deus que aparece nas Escrituras tem a ver com o nascer do sol: “A vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”
Subir em uma montanha e deixar-se tocar pelo vento e pela brisa suave. Foi em um momento desses que Elias saiu de sua dor para ouvir a voz de Deus e ter a certeza de que, apesar da frustração ministerial, Deus estava ali, junto com ele, na caverna. Um renovo da missão acontecendo no alto de um monte e a voz do Pai chegando em meio ao soprar do vento, conduzindo uma brisa que acariciava seu guerreiro ferido.
Passear por um jardim e perceber que, além das multicores, existem aromas diferentes em cada flor; surpreender-se com o fato de que Deus garante isso ao longo dos milênios. Cantares tem o convite: “Vem ao meu Jardim! Aparecem as flores na terra e ouve-se a voz das rolas cantando de alegria” Jardim tem a ver com encontros daqueles que se amam, por isso Deus plantou um jardim para seus dois primeiros filhos humanos.
Escutar o canto dos pássaros e os sons de outros animais celebrando o fato de que eles entendem que “o tempo de cantar chegou”. Cada um exalta o Criador com sua voz! Uma perfeita orquestra que vai da lagoa, passa pelo ritmo dos grilos e chega ao topo das árvores, numa sinfonia perfeita ao Eterno. Como não abrir o peito e adorar ao que vive pelos séculos dos séculos?
Fugir das prateleiras dos mercados, entrar no que ainda resta de cerrado virgem e saborear seus diferentes frutos que alimentam animais e homens ao longo da existência, lembrando de que Deus nutre cada um deles e nenhum passa privação. Como não se inspirar com o cuidado do Pai?
Podemos ser melhores pastores e cônjuges se observarmos o balé de amor das aves, aprender de trabalho com as abelhas; de planejamento com as formigas; de engenharia com o João de Barro; de submissão com boi, de simplicidade com as pombas e de prudência com as serpentes. Mas, para isso, precisamos parar e investir nesse aprendizado não acadêmico, mas de profunda sabedoria e longevidade.
“Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.”
Walter da Mata
Missionário Sepal e integrante do Ministério Homens Mentores, foi pastor por trinta anos da Assembleia de Deus Manancial – Sobradinho (DF).