Jesus orou para que o Pai não apenas mantivesse seu povo fiel ao seu nome, mas também o guardasse “do mal” (Jo 17. 15). Isto é, ele desejava que eles fossem preservados do erro e mantidos na verdade, por um lado; e guardados do mal e mantidos em santidade, por outro lado. Paulo declararia mais tarde que o destino final da Igreja é ser apresentada a Cristo “como Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer outra coisa semelhante, mas santa e sem defeito”. Porém a santidade da Igreja deve começar agora.
Algumas vezes a igreja tem se afastado do mundo e perdido contato com ele. Outras vezes, em sua determinação igualmente correta de não perder contato, ela tem se conformado ao mundo. Mas, a visão de Cristo para a santidade da Igreja não é afastamento nem conformidade.
O afastamento foi o modo dos fariseus. Ansiosos para aplicar a lei aos detalhes da vida cotidiana, eles tinham uma compreensão falsa de santidade, imaginando que o mero contato com o mal e pessoas más traria contaminação. Jesus orou especificamente: embora ele quisesse que seus discípulos fossem protegidos do mal, ele não queria que eles fossem tirados do mundo (v. 15).
Se o “afastamento” foi o caminho dos fariseus, a “conformidade” foi o caminho dos saduceus. Pertencentes a famílias ricas e aristocráticas, eles colaboravam com os romanos e procuravam manter o status quo político. Essa tradição comprometedora também persistiu na igreja primitiva e ainda sobrevive hoje.
O motivo para isso, repito, podia até ser bom, ou seja, a resolução de abolir as barreiras entre a Igreja e o mundo e de ser amigo de publicanos e pecadores, como Jesus foi. Mas ele também foi “separado dos pecadores” em seus valores e padrões.
Em lugar dessas duas posições extremas, Jesus nos chama para vivermos “no mundo” (v. 11) enquanto permanecemos “não [sendo] do mundo” (v. 14), ou seja, não pertencendo a ele, nem imitando seus caminhos. Nós não devemos ceder nem optar por não participar. Em vez disso, precisamos continuar no mundo e permanecer firmes como uma rocha
Recorte do livro A igreja, uma comunidade singular de pessoas, John Stott, Editora Ultimato