Do sonho à realidade: David Kornfield fala sobre a expansão do discipulado no Brasil e América Latina

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por Marcelo Ramiro, Jornalista e Pastor Metodista

É uma honra apresentar David Kornfield, um líder no discipulado e pastoreio, com décadas de experiência em serviço missionário. Kornfield tem dedicado sua vida a fortalecer pastores e líderes ao redor da América Latina. Desempenhou um papel crucial como missionário da SEPAL-BRASIL e é o fundador de várias iniciativas importantes, como o MAPI e o REVER. Sua liderança atual inclui a coordenação de esforços de discipulado em dez países da América Latina e a colaboração com a Aliança Evangélica Mundial, refletindo seu compromisso profundo com a formação e o crescimento espiritual.

Nesta entrevista concedida ao ministério Igrejas Discipuladoras durante o segundo Retiro dos Sonhos IIFD, realizado em Curitiba-PR em agosto de 2024, David Kornfield compartilha suas perspectivas sobre o avanço do discipulado e a importância da liderança comprometida. Sua visão é essencial para entender como podemos fortalecer a prática do discipulado em nossas igrejas e comunidades.

David, é um prazer estar aqui com você. Este é o segundo Retiro dos Sonhos IIFD, e vejo que há uma grande mobilização de pastores. Comparado ao evento anterior em Porto Alegre, como o sr. enxerga essa expansão aqui no Brasil?

David Kornfield: Estou profundamente grato e impressionado com o que Deus tem feito. Quando lançamos essa visão, tínhamos em mente algo modesto: acreditávamos que talvez quatro ou cinco igrejas se uniriam a esse movimento. Mas Deus tinha planos maiores. Agora, para a glória dEle, temos 17 grupos representando igrejas de diversas denominações. Isso mostra que, quando há unidade e um propósito claro, o impacto é muito maior do que qualquer um de nós poderia imaginar. Algo que me chama atenção neste evento é a presença de líderes não só comprometidos, mas também estratégicos. Estamos falando de pastores e líderes que entendem que o discipulado vai além de uma tarefa individual – ele precisa ser integrado como um estilo de vida que se multiplica em cada área da igreja e, por fim, na sociedade.

O que Deus está fazendo aqui no Brasil é um reflexo do que eu vejo em outras partes do mundo. Este movimento de discipulado tem despertado um novo vigor espiritual. Edmund Chan, nosso mentor, enfatiza a importância de estarmos conectados com três tipos de líderes: aqueles acima de nós, que nos guiam e mentoreiam; nossos pares, com quem compartilhamos a caminhada e os desafios; e aqueles que estamos levantando, para que a visão se perpetue. Eu vejo claramente essa dinâmica aqui, e isso me enche de esperança para o futuro. Um movimento de discipulado só se sustenta quando há essa rede de apoio. Isso me faz crer que estamos testemunhando o início de algo que pode transformar a igreja brasileira de uma forma que poucos esperavam.

O discipulado é um tema que tem ganhado força no Brasil nos últimos anos, mas, na prática, ainda vemos poucas igrejas realmente comprometidas em fazer discípulos que façam outros discípulos. Qual o maior obstáculo para que o discipulado se torne uma prática real e eficaz em nossas igrejas?

David Kornfield: Essa é uma excelente pergunta, e a resposta está intimamente ligada ao grau de comprometimento. O que percebo é que, infelizmente, poucas pessoas estão dispostas a se dedicar inteiramente à causa do discipulado. Quando olhamos para movimentos missionários ao redor do mundo, aqueles que realmente causam impacto duradouro têm algo em comum: obreiros dedicados exclusivamente a isso. Eu, minha esposa e ainda a Ilaene, tomamos uma decisão consciente de viver para essa missão de discipulado, e isso tem sido o nosso foco principal. Contudo, se dependermos apenas de voluntários, será muito difícil alcançar a profundidade e a abrangência que essa tarefa exige.

O discipulado, como Jesus nos ensinou, não é algo que se faz de maneira casual ou ocasional. Ele requer um compromisso integral e contínuo. O maior obstáculo, portanto, é a falta de obreiros apostólicos, líderes que possam investir seu tempo integralmente na construção e manutenção desses movimentos. Eles não apenas lideram, mas também formam novos líderes, assegurando que a visão continue a se multiplicar. O que vejo em muitas igrejas é que o discipulado ainda é tratado como uma atividade paralela ou secundária. É preciso mudar essa mentalidade para que o discipulado seja o cerne do ministério da igreja. Quando líderes abraçam essa visão com seriedade e a integram em todas as áreas, a transformação começa a acontecer. Mas isso exige compromisso, treinamento e, acima de tudo, um entendimento claro do que é o discipulado bíblico.

No Brasil, vimos um crescimento exponencial de igrejas utilizando o modelo de células ou pequenos grupos. No entanto, os microgrupos de discipulado têm uma proposta mais intencional e focada. Como podemos promover essa visão de microgrupos em um contexto onde as células já estão consolidadas?

David Kornfield: Essa questão é fundamental para entendermos as nuances entre os diferentes modelos. Primeiro, é importante definir os termos. Quando falamos de microgrupos de discipulado, estamos nos referindo a pequenos grupos de quatro a cinco pessoas, onde há um compromisso claro e mútuo com a jornada espiritual de cada um. Esses grupos são formados com base em um pacto de responsabilidade e crescimento mútuo, com o objetivo explícito de discipular e capacitar outros líderes.

As células, por outro lado, são espaços mais abrangentes e inclusivos, onde o foco é a comunhão, o cuidado e o pastoreio comunitário. Elas têm um papel essencial na igreja, especialmente em termos de criar um ambiente acolhedor e integrador para novos convertidos e para a edificação mútua. No entanto, se quisermos formar líderes que realmente sejam multiplicadores e discipuladores, os microgrupos oferecem uma dinâmica muito mais focada e eficaz.

O que tenho sugerido em várias igrejas que trabalham com o modelo de células é a ideia de subgrupos dentro das células. Durante a parte final dos encontros, as células podem se dividir em pequenos subgrupos, onde os membros têm a oportunidade de compartilhar suas lutas, vitórias e desafios de maneira mais íntima. Isso prepara o terreno para que, eventualmente, alguns desses subgrupos possam se transformar em microgrupos de discipulado. Assim, a transição se dá de maneira natural, sem criar uma competição entre os dois modelos, mas sim uma complementaridade. A chave é integrar as duas visões de maneira que uma alimente a outra, e que o discipulado seja tanto uma cultura quanto uma prática constante dentro da igreja.

Como o sr. enxerga o futuro desse movimento de discipulado no Brasil e na América Latina nos próximos 5 a 10 anos? Qual é a sua expectativa?

David Kornfield: Eu diria que estamos em um ponto crucial. Se olharmos para o cenário atual, vemos um movimento crescente de líderes despertando para a importância do discipulado. Minha expectativa é que, nos próximos anos, esse despertar se traduza em um impacto profundo em toda a América Latina. Um dos passos que estamos tomando é a organização de um Summit latino-americano de discipuladores em Bogotá, prevista para março do próximo ano. Pretendemos reunir 50 líderes estratégicos de cada país, com o objetivo de alinharmos a visão do discipulado em nível continental.

O que eu visualizo é um movimento coordenado, onde líderes em diferentes nações compartilham recursos, experiências e estratégias para fortalecer o discipulado em suas igrejas locais. Estamos falando de uma colaboração que transcende fronteiras denominacionais e nacionais. Acredito firmemente que, se conseguirmos criar essa rede de apoio e alinhamento, veremos uma renovação espiritual em larga escala.

Essa renovação não se limitará à implementação do grande mandamento e da grande comissão. Meu desejo é ver a igreja latino-americana vivendo um avivamento genuíno, caracterizado por uma “grande colaboração” entre líderes e uma “grande igreja” que seja avivada, renovada e comprometida com a missão de fazer discípulos. Isso exige um movimento intencional, onde o discipulado seja tratado como prioridade máxima. Mas para isso, precisamos de líderes que estejam dispostos a pagar o preço, investir tempo e recursos e, acima de tudo, se render completamente ao que Deus está fazendo.

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