Discipular ou Morrer¹
por David Kornfield
Um Som de Trombeta – Necessidade Alarmante
Três perspectivas sobre a Carta aberta para pastores e igrejas² – em oração, escolha uma:
- É um bom trabalho, possivelmente até excelente, sobre as notícias relevantes de hoje. Mas passará com a próxima onda de notícias.
- É uma palavra inspiradora. Toca meu coração. Mexe comigo.
- É uma palavra profética. Preciso realinhar minha vida dramaticamente.
A carta aberta começa desta forma:
Amado/a guerreiro/a de Deus,
Em março de 2019, meu mentor, Edmund Chan, me disse: “David, você precisa se reinventar. E você não tem muito tempo.
Será que essas palavras são proféticas em relação à igreja?
Querida igreja, você precisa se reinventar. E você não tem muito tempo!
Uns outros pontos que se sobressaem da carta aberta:
Em suma, nunca em nossa vida houve uma necessidade mais crítica de discipulado e pastoreio de pastores.³
A igreja está perdendo em três frentes: está perdendo seus jovens; está arriscando em alguns casos sua reputação e sua voz ao se politizar e está perdendo seus pastores.
Estudo de caso: A falha mortal de Josué
“Toda aquela geração também morreu e foi reunida aos seus pais. E, depois dela, se levantou uma nova geração, que não conhecia o Senhor, nem as obras que ele havia feito” Juízes 2.10.
Josué tem muitas incríveis qualidades. É um herói. Um raro exemplo de discípulo no A.T. Um líder e guerreiro sem par nessa época. Tem um livro inteiro da Bíblia com seu nome, 24 capítulos de proezas! Capítulo 24 é um ótimo final de uma grande vida.
Com tudo isso, acabou falhando profundamente. Juízes 2.10 pode ser o versículo mais trágico do Antigo Testamento. Podemos encontrar as raízes por trás desse fracasso?
Cinco razões ocultas para o fracasso de Josué – por trás de Juízes 2.10.
1. Falhou por ser um grande facilitador quando precisava ser grande líder⁴.
“Se, porém, não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão servir, se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas, eu e a minha família serviremos ao Senhor”” (Js 24.15).
Ele destacou a escolha do povo quando precisou destacar sua identidade como povo de Deus e seu compromisso irrevogável de caminhar com Ele.
2. Falhou ao introduzir o espírito de individualismo⁵. Josué se comprometeu com sua família. “Mas, eu e a minha família serviremos ao Senhor” (Jos 24.15). Isto é uma grande qualidade! Algo que falta na vida de muitos pastores e líderes!
Ao mesmo tempo, sem perceber, ao focar em sua família e não na família de Deus, Josué introduziu o espírito de individualismo.
“Naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo” (Jz 17.6). Individualismo entroniza o indivíduo e seus direitos em lugar de entronizar a Deus.
Josué falhou em não entronizar a Deus, em não entender, abraçar e estender o Reino de Deus
Os filhos de Issacar são um grande contraste com Josué quanto a cuidar apenas de sua família.
“Dos filhos de Issacar, que sabiam discernir o tempo, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos chefes e todos os seus irmãos sob suas ordens” (1 Cr 12.32).
Eles enxergavam além de sua própria tribo o que todo o povo de Deus precisava.
3. Falhou em não levantar um sucessor.
Abriu 400 anos da história de juízes que também não levantaram sucessores.
E na continuidade temos o mesmo problema acontecendo durante muitos séculos, com bons reis de Judá que não levantaram sucessores bons.
4. Falhou em não cultivar uma cultura contínua de guerreiros. Ele fez parceria com Deus no deserto para forjar uma geração de guerreiros. O primeiro grupo de espiões que entrou em Canaã, com exceção de Calebe e Josué, voltou apavorado. O segundo grupo de espiões, quarenta anos depois, voltou com a notícia de que os cananeus estavam aterrorizados! O povo de Israel entrou no deserto com a mentalidade de escravos, de medo, de se ver como gafanhotos. Saíram do deserto com a mentalidade de guerreiros irresistíveis de Deus.
Mas no final da vida de Josué, eles não continuaram com essa cultura. Nos quatrocentos anos seguintes, sempre que um juiz morria, os cananeus atropelavam o povo de Israel.
5. Josué fez discípulos. Investiu profundamente na nova geração dos que tinham menos de vinte anos (Nm 14.29; 32.13)! Foi um grande sucesso! Onde está a falha nisso?
Ele falhou em não fazer multigeracionais.
Keith Phillips, A Formação de um Discípulo, diz que nosso ministério só é confirmado na quarta geração. Fazer discípulos não é suficiente. A igreja irá morrer na próxima geração. Nem mesmo fazer discipuladores é suficiente. Eles apenas estendem a morte da igreja por mais uma geração. Devemos fazer discipuladores que fazem discipuladores!
E você? Vai repetir as falhas de Josué ou vai aprender de suas falhas?
“Todos esses são sinais de alerta – PERIGO! – em nossos livros de história, escritos para que não repitamos seus erros. Nossas posições na história são paralelas – eles no início, nós no final – e somos tão capazes de estragar tudo quanto eles. Não seja tão ingênuo e autoconfiante. Você não está isento. Você pode cair de cara no chão tão facilmente quanto qualquer outra pessoa. Esqueça a autoconfiança; é inútil. Cultive a confiança em Deus” (1Co 10.11-12, MSG⁶).
Estudo de Caso: A Igreja de Éfeso
A história se repete no Novo Testamento!
A igreja de Éfeso foi a melhor do Novo Testamento!
- Paulo – três anos! Nunca passou um tempo grande assim em nenhum outro lugar.
- A carta de Efésios, a magna carta da Bíblia toda sobre a igreja!
- Timóteo – bispo de Éfeso. Dois livros inteiros com o estudo de caso mais profundo no Novo Testamento de uma relação discipuladora depois de Jesus!
- Éfeso foi o centro do ministério do Apóstolo João em suas últimas décadas!
Com tudo isso, em Apocalipse a igreja de Éfeso está prestes a ser extinguida. Não por forças externas. Jesus falou que nem as portas do inferno prevalecerão contra sua igreja (Mt 16.18).
O problema são forças internas destrutivas. O mesmo tipo de ameaça destacada em minha carta aberta para pastores e igrejas.
“Lembre-se, pois, de onde você caiu. Arrependa-se e volte à prática das primeiras obras. Se você não se arrepender, virei até você e tirarei o seu candelabro do lugar dele.” (Ap 2.5).
Quem é o responsável por tudo isto? “O anjo da igreja”! Comumente entendido como o pastor da igreja. Os pastores daquela época receberam um alerta. E hoje não é diferente.
Vamos aprender de Josué e Éfeso?
Ou vamos repetir sua história?
Na América Latina, nós evangélicos temos um otimismo cego. Nossa cegueira vem de ter visto um crescimento incrível e milagroso nos últimos cinquenta anos. Passamos de uma minoria sem voz para ser uma potência política em uma parte significativa de nossos países. Não muito diferente do que aconteceu com Constantino no século IV.
A. W. Tozer tocou a trombeta em 1961, uns 60 anos atrás. Sublinhe as frases mais importantes dele a seguir.
“O baixo conceito de Deus mantido quase universalmente entre os cristãos é a causa de uma centena de males menores em toda parte. Uma filosofia de vida cristã inteiramente nova resultou desse único erro básico em nosso pensamento religioso… Esta perda do conceito da majestade ocorre quando as forças da religião começam a ganhar terreno de maneira dramática e as igrejas tornam-se mais prósperas do que em qualquer outra época dos últimos séculos. Mas o aspecto mais alarmante é que nossos lucros são quase todos externos e nossas perdas são inteiramente internas; e já que é a qualidade da religião que é afetada por condições internas, é provável que nossos supostos lucros sejam apenas perdas distribuídas por um campo mais extenso“
(A.W. Tozer, Mais Perto de Deus, Mundo Cristão, 1961/1980, pp. vii).
Será que esta história se está repetindo em nossas vidas?
Poderíamos substituir a frase crítica no começo do parágrafo acima com “O fracasso em fazer discípulos”?
Não podemos simplesmente continuar fazendo o que temos feito até agora!
Aplicação
- Por favor, pare para ouvir a Deus e registre o que você está ouvindo.
- Encontre pessoas para conversar sobre isso.
- No final, com esse grupo, escutem Deus novamente.
- Compartilhe esta mensagem com outros pastores que você conhece.
Notas:
1. Este é um esboço, não completamente escrito para simples leitura. Foi ministrado inicialmente para os líderes da Década do Fazer Discípulos em Brasil em 19 de maio, 2022. O título provavelmente parecerá excessivamente dramático no início. Espero que no final seja um toque de trombeta profundo.
2. A Carta aberta para pastores e igrejas foi publicada em nosso site em https://www.igrejasdiscipuladoras.com.br/blog/2022/04/08/carta-aberta-para-pastores-e-igrejas/
3. Diversas novas notícias ressaltam a seriedade disto:
a) Pastores esgotados. A capa de Cristianismo Hoje (Christianity Today) nos EUA para maio-junho, 2022, mostra um pastor vazio. O título é Esvaziado. O subtítulo “Dezenas de milhares de pastores querem desistir, mas não o fizeram. O que isso fez com eles?” Dedicaram 11 páginas ao assunto. Entre outras coisas este artigo cita uma pesquisa secular (Gallup). Mostrou que em 2012, mais da metade dos pesquisados consideram pastores como “alto” ou “muito alto” quanto a honestidade e ética. Em 2018, isso caiu para um pouco mais de um terço. Bem mais preocupante é que uma pesquisa em 2018 de cristãos nos EUA mostrou que apena 42% tem um nível alto de confiança em seus pastores.
b) Púlpitos vazios. Meu cunhado é pastor que foi chamado de outra denominação para pastorear uma igreja dos Irmãos (os Irmãos que tem pastores). Hoje sua denominação tem 70 vagas para pastores titulares e oito candidatos.
c) Escândalos evangélicos. A Convenção Batista do Sul dos EUA com 13 milhões de membros é a maior nos EUA e está perdendo membros faz 15 anos. Eles têm um escândalo semelhante ao dos católicos revelado publicamente em 2011. A equipe executiva, os líderes principais da denominação, cobriram e protegeram pastores que abusaram sexualmente a outros, denegrindo as vítimas. Isto chacoalha não apenas a denominação como também a reputação evangélica no país inteiro e além.
4. Todo líder deve ser líder-servo, acima de tudo, líderes cristãos. Isso inclui ser facilitadores (servos) peritos e líderes ungidos. Precisamos discernir quando exercer quais dessas duas qualidades com base na maturidade e competência daqueles que lideramos.
5. O profundo desafio desses fracassos é que eles abraçam meias verdades. A individualidade é divina e preciosa. O individualismo é a verdade distorcida de que o indivíduo sempre tem a última palavra, ressaltando seus direitos.
6. Traduzido de The Message de Eugene Peterson em inglês.