O primeiro artigo desta série, Fazendo Discípulos – Primeiros Passos, contou com:
- Definições – de um discípulo e um discipulador. Isso é fundamental.
- Múltiplos modelos, não caindo na tirania de pensar que existe um modelo certo.
- Seleção e química
Este artigo destaca duas áreas adicionais: 1) a visão básica, filosofia, teologia ou pressupostos de uma visão de fazer discípulos e 2) os processos de seleção. Sem o primeiro, não podemos emitir um chamado claro de trombeta para fazer discípulos (1Co 14:8). Sem o segundo, podemos investir profundamente com poucos resultados. A seleção, seja para a Copa do Mundo, o casamento, uma equipe ou a formação de discípulos, é crucial!
Os artigos futuros, desta série de passos práticos para fazer discípulos, apresentarão:
- Microgrupos
- “Podar” sua vida, se preparando para uma frutificação maior
- Passos para encontrar um mentor / discipulador
- Discipulado prático – dicas para o dia a dia
Vamos começar examinando com mais cuidado nossos fundamentos – nossa visão ou pressupostos básicos.
Visão Básica e a Teologia de Fazer Discípulos
Para desenvolver a identidade e o chamado de um discípulo e um discipulador, ajuda ter uma imagem maior de como a vida inteira se encaixa. Isso pode ser retratado em cinco círculos concêntricos que expressam a conexão entre o compromisso com Cristo, formação de discípulos, igrejas saudáveis e o Reino de Deus:
- Estar centrado em Cristo (Jo 14:6; Ef 1:18-22; Cl 1:15-20; Hb 1; Ap 1)
- Ser discípulo de Jesus (Mt 16.24-28; Mc 1:15, 17; 3.13-15; Lc 9:57-62)
- Ser um discipulador (Mt 28:16-20; Jo 17:4, 6, 18-19)
- Ser uma igreja saudável. Uma comunidade de discípulos e fazedores de discípulos resulta naturalmente em igrejas saudáveis (At 2:42-47; Ef 4:11-16) que demonstram o Reino de Deus.
- O Reino de Deus (Mt 6:33; Mt 13; Mc 1:15, 17).
Centrado em Cristo. Conectado com Cristo; ajudando os outros a fazer o mesmo. Nada pode substituir isso. E começa com o nosso tempo devocional. Precisamos nos concentrar em nos conectar com o coração de Deus e abrir o nosso, tendo um encontro divino. O salmista nos mostra o caminho. Precisamos evitar cair no erro de ler ou até mesmo estudar as Escrituras ou um bom livro devocional, sem nos encontrarmos com Jesus (Jo 5:39-40). À medida que avançamos em nosso dia, continuamos a andar com Deus. Nas famosas palavras do irmão Lawrence, praticando a presença de Deus. Nesta mesma linha, Bill Gothard fez duas perguntas clássicas: 2) O que Deus está fazendo na vida da outra pessoa? E 3) Como posso fazer parceria com Ele?
Estar centrado em Cristo leva, naturalmente, a ser um discípulo de Jesus. Isso se expressa holisticamente, tanto, verticalmente com Jesus, quanto, horizontalmente com os outros. Buscamos crescer intencionalmente, tornando-nos mais parecidos com Jesus. Isso passa, naturalmente, de estar com Ele (Mc 3:14), para ser enviado por Ele (Mc 3:14). O ser flui para o fazer, que flui de novo ao ser. Fora uma conexão direta com Jesus, muito pouco nos ajudará a crescer tanto quanto ter um discipulador ou mentor humano comprometido em nos ajudar a ver nosso potencial e nossas fraquezas mais profundamente do que poderíamos. Também nos ajuda a discernir o que Deus está fazendo em nós, através de nós e ao nosso redor.
Ser um discípulo de Jesus leva, naturalmente, a se tornar um discipulador. Ninguém pode fazer discípulos se não for um discípulo. Professores fazem alunos. Pastores naturalmente cuidam dos membros da igreja. Mas um professor ou pastor que não é um discípulo normalmente não fará discípulos. Peter Wagner costumava dizer que todos podemos escolher se queremos ou não ser discípulos. É uma questão de livre arbítrio e decisão consciente. Ele então acrescentava: “Mas uma vez que você decidiu ser um discípulo, não tem mais a opção de não se tornar um discipulador”. Você segue Jesus e obedece à sua autoridade suprema ao convidá-lo a fazer discípulos (Mt 28: 18-20). Você investe de propósito em ajudar intencionalmente um pequeno grupo de pessoas a se tornarem mais parecidas com Cristo e, por sua vez, a se tornarem discipuladores.
Ser um discípulo e fazedor de discípulos leva naturalmente a fazer parte de uma cultura de fazer discípulos, uma igreja saudável. A palavra igreja aparece em apenas dois versículos nos Evangelhos (Mt 16:18; 18:17). A palavra discípulo ou discípulos aparece 240 vezes. O foco de Jesus estava claramente na formação de discípulos. Ele sabia que discípulos genuínos e discipuladores resultariam em igrejas saudáveis tão naturalmente quanto os recém-casados resultam em famílias. Sem nenhum curso de eclesiologia ou treinamento formal no seminário, a igreja primitiva nasceu com o perfil de uma igreja tremendamente saudável (Atos 2:42-47).
Uma igreja saudável expressa e estende o Reino de Deus, onde Jesus Cristo é o Senhor e Rei. Expressamos o Reino de Deus na simples alegria de ser seu povo (Rm 14:17; 1Pe 2:9). Estendemos o Reino em nossas vidas, em nossos relacionamentos e na medida que somos sal e luz no mundo, trazendo outros a Jesus e alimentando discípulos que se reproduzem. A igreja local deve ser a expressão mais completa do Reino de Deus na terra. Ao mesmo tempo, o Reino de Deus é maior que a igreja e atinge todas as esferas da sociedade.
Na próxima seção, examinaremos com mais atenção um elemento crítico para discípulos e discipuladores – como discernimos aqueles em quem Deus nos chamou para investir, por meio de relacionamentos íntimos e comprometidos.
Processo de Seleção e Critérios a serem Adotados
Muito do sucesso na formação de discípulos ou mentoria destes depende de quão bem selecionamos aqueles em quem investir nossas vidas. Embora isso se aplique especialmente ao discipulado no relacionamento com líderes e seguidores, também se aplica ao discipulado colegiado ou mútuo (descrito no primeiro artigo). Ao pensar em quem convidar para um relacionamento de discipulado, faríamos bem em aprender com Jesus. Ele levou dezoito meses para conhecer bem seu povo antes de passar a noite em oração e selecionar doze para investir mais profundamente. Olhando para o processo de seleção de Jesus, podemos discernir e aplicar cinco chaves.
- Encontros divinos: reuniões pessoais em que a vida de uma pessoa é transformada ao receber sabedoria, direção ou poder de Deus através de outra pessoa. Encontros divinos repetidos são um sinal de que Deus pode estar unindo pessoas.
- Padrões divinos: quando a visão, compromisso e ritmo de vida (disponibilidade) de outra pessoa coincidem com a sua. Quando as pessoas tomam a iniciativa de caminhar com você, Deus pode estar juntando você a essas pessoas.
- Altos padrões. Jesus nunca rejeitou ninguém. Ele simplesmente deixou claro os critérios para segui-lo e, de tempos em tempos, elevava esses padrões. Embora ele realmente selecionasse os Doze e até os Setenta, também havia um elemento significativo de auto seleção quando as pessoas se retiravam ou sentiam-se atraídas quando Jesus esclareceu os critérios para segui-lo. Não tenha medo de altos padrões. É muito melhor ter algumas pessoas altamente comprometidas andando com você do que um grande grupo morno.
- Discernir quem responde à nossa voz. Essa pessoa é receptiva, não resistente. Ela faz o que pedimos e ainda mais. Existe uma conexão espiritual, uma ressonância. Ela leva nossa perspectiva mais a sério do que as muitas outras vozes ao seu redor. Ver João 10:3-5, 8; Hebreus 13:17.
- Oração: direção e confirmação do Pai. Lembre-se da busca de Samuel por um sucessor de Saul (1 Sm 16)? Deus quer nos dar pessoas como Davi. Se não orarmos e não ouvirmos de Deus, muitas vezes acabaremos tendo pessoas como Eliabe.
Estes mesmos princípios podem ser adaptados ao outro lado da moeda: a perspectiva de quem procura um discipulador ou mentor.
Além de usar os processos de seleção de Jesus, você lucrará listando os principais critérios do que está procurando nesses discípulos. Três critérios clássicos são: ser fiel, disponível e ensinável. Se você está procurando líderes que se multipliquem, pode incluir outros critérios como 1) liderança – tem seguidores; 2) servo – facilita o crescimento e a participação de outras pessoas; 3) saúde emocional. Se você tem um grupo de bom tamanho do qual deseja escolher, avalie-os com base nesses critérios. Em algum momento, você pode pedir que eles se avaliem e usar isso como parte do processo de discernimento de quem Deus está lhe dando.
Perguntas para discussão/aplicação individual ou pequenos grupos: Mudanças significativas raramente ocorrem sem suporte. Você se beneficiará ao discutir essas questões em um pequeno grupo.
- O que chamou sua atenção? (Deus está dizendo alguma coisa para você?)
- Que outras perguntas ou ideias vêm à sua mente?
- O que você fará esta semana com base no que está aprendendo?